DA EDUCAÇÃO RURAL À EDUCAÇÃO DO CAMPO
Como já mencionado a historia da educação do campo no Brasil tem o seu inicio tardio. Do ano de 1500, data do descobrimento do Brasil, até aproximadamente 1910 não consta na historia registro de uma política efetiva de educação destinada aos povos do campo. Só a partir de então, 410 anos após, é que aparecem os primeiros registros de investimentos pedagógicos nestes espaços.
Consta da historia que os primeiros investimentos em projetos pedagógicos destinados ao povo do campo datam-se da década entre 1910 e 1920, período em que a historia coincidentemente registrava um grande fluxo migratório deste povo para as cidades.
Nasce assim o chamado “ruralismo pedagógico” com o propósito de promover a educação no meio rural, e conseqüentemente conter o processo migratório do campo para as cidades. Este fato contou com o apoio das elites agrárias preocupadas, porque perdia seu exercito de mão-de-obra e das elites urbanas preocupadas com o grande aglomerado destas pessoas na cidade. Este permanece até a década de 1930 e, a partir daí diversos outros projetos e programas foram criados no sentido de aprimorar o que tivera inicio no referido período.
Este momento foi decisivo para o inicio da educação rural no Brasil, mas não foi decisivo para criação de políticas efetivas de educação do campo e para o campo, porque “ao mesmo tempo, ideologicamente, o ruralismo esteve vinculado a outras fontes sócio-políticas e culturais da época (o movimento nacionalista e o movimento católico do inicio do século), ocasionando, de certa forma, a valorização da visão fisiocrata, na qual a riqueza tem origem na produção agrícola e, também, a tendência de colocar o Brasil em um destino econômico agropecuário” (LEITE, 1999 P 29), observam-se outras intenções embutidas no projeto educativo
Sendo assim, a política de educação rural neste momento, se por um lado pode comemorar o seu inicio na historia do Brasil, por outro se encontra fortemente marcada por uma política compensatória e paliativa, uma educação pensada para o povo do campo sem as suas devidas participações sem levar em conta seus interesses e suas necessidades.
Nisto se fundamenta basicamente a concepção de educação existente. Uma educação pronta para o povo do campo, que em resumo serve muito mais para formar mão-de-obra e atender aos interesses da produção agroindustrial do país e das elites brasileiras do que para promover a educação do povo que vive no e do campo.
Somente a partir de 1990 após intensas lutas de movimento sociais, por uma educação básica do campo, esse quadro educacional começa a dar sinais de mudança. Em 1996 com criação da Lei de Diretrizes e base LDB 9394/96, esta temática entra para as políticas publicas, ainda que lentamente, representando um grande avanço para o segmento.
Mas, educação do campo e não mais educação rural ou educação para o meio rural só foi possível a partir de 1998, com a realização da 1ª conferência por uma Educação Básica do campo promovida pelas instituições: Movimento Sem Terra- MST; Conferência Nacional dos Bispos do Brasil- CNBB; Universidades de Brasília - UnB; Organização das Nações Unidas para a Educação- UNESCO e Fundo das Nações Unidas para a Infância- UNICEF.
Posterior a isto e talvez a mais significativa de todas as conquistas destes movimentos, é a criação das diretrizes operacionais para a educação do campo em 2002, pelo o ministério da educação, pois esta se configura como política efetiva para educação do campo.
Não coincidentemente começa a emergir uma nova concepção de educação, resultado de reivindicação e lutas das organizações e dos movimentos campesinos.
A nova concepção de educação emergente pretende sobretudo romper com a antiga concepção educacional pensada para o povo do campo fundamentada nos pensamentos latifundiários e empresariais como era o caso do ruralismo pedagógico.
A educação do campo sonhada e desejada pelas organizações e movimentos do campo, esta que vem sendo historicamente construída, é uma educação que respeita o campo enquanto território e espaço geográfico, bem como sua gente e seus respectivos modos de vida e de organização familiar e de trabalho, suas identidades culturais e suas experiências de vida.
Contudo se é possível afirmar que a educação do campo está em desvantagem em relação à educação urbana também é possível afirmar que houve avanços significativos. Se antes esta se limitava a transmitir conhecimento elaborado na cidade e levado para os alunos da zona rural, agora já se fala na construção deste conhecimento junto com os seus sujeitos. Logo, uma educação do campo e não mais para o campo.
